quarta-feira, julho 22, 2009

1964: Uma Revolução de Paz!

Homenagem ao irmão João dos Santos.

No início deste ano, fiz uma homenagem à irmã Zeza, por ocasião dos seus 80 anos. Este mês faço uma honraria a João Antonio dos Santos.

Para os irmãos da igreja, irmão João dos Santos, para os velhos amigos, seu João Clarindo, para irmã Zeza, simplesmente o "João". Para mim, um cidadão inteligente, um intelectual no seu tempo, criterioso e legalista. Assim era meu pai.

Irmão João dos Santos, nasceu no dia 24 de Maio de 1.917, no município de Barras - PI, hoje com uma população de 43 mil habitantes, e a 126 Km ao norte de Teresina, a capital do Estado do Pi
auí. Casou-se a primeira vez aos 17 anos e enviuvou aos 35, casando-se pela segunda vez com a jovem Maria de Jesus Coelho Santos - a irmã Zeza. Nasceu no periodo da primeira grande Guerra mundial, mas gostava de pregar o Evangelho da paz! Nunca quis ser responsável por uma igreja, embora tenha iniciado várias delas.

Era um homem bem informado na sua época. Acompanhava o noticiário internacional pela BBC de Londres; em um rádio "jaboti" ainda a base de velas, daqueles que agente ligava e esperava esquentar. Assim acompanhou todo desdobramento da segunda grande Guerra Mundial. Isso o levou a alistar-se para o combate, nos campos da Itália, mas, antes de embarcar para o Rio de Janeiro e atravessar o Atlântico num daqueles bimotores da FAB e juntar-se a FEB-Força Expedicionária Brasileira, ouviu pelo seu "jaboti", que havia amanhecido o dia "D". (06 de Junho de 1944, quando deu-se a maior operação militar-aeronaval da história.

Naquele dia, 155 mil homens, dos exércitos dos EUA, Inglaterra e Canadá; lançaram-se nas práias da Normandia, região da França, dando início a libertação européia do domínio nazista).

Em seu tempo de vigor era um lutador. Criou boa parte dos filhos, como empresário do ramo da panificação. Acordava todos os dias as duas da manhã para comandar os padeiros no "levantar da massa" - processo de fermentação. Compensava um pouco o sono, depois do almoço, proibindo a meninada de fazer "zuada" ( barulho).

Seu João Clarindo, mudou-se para Teresina em 30 de Abril de 1961, vindo de União-PI, onde morou muitos anos. Tentou o mesmo empreendimento, não conseguiu êxito. Foi funcionário público estadual, depois municipal, chefe da extinta Suop - Superitendência de obras pública, no governo de Petrônio Portella, na Prefeitura Muncipal de Teresina.

Dono de uma caligrafia impecável e um conhecimento gramatical espetacular, virtudes supervalorizadas antes da era do microcomputador. Foi ainda escrevente de um cartório de registro civil em Teresina.

Em 1964, estourou a Revolução Militar, no raiar do dia 31 de Março, que levou o Brasil a uma ditadura, até 15 de Janeiro de 1985! Temeroso por si, pois era também sindicalista do seu velho ramo da panificação, e por seus amigos, como o irmão Francisco do Carmo e Raimundo Cruz, sincalistas da construção civil, já perseguidos pelos homens do Dops - Departamento de Ordem Pública e Social; o mais temível orgão repressor do famigerado golpe militar.

Neste mesmo ano, nas férias escolares das crianças, irmão João dos Santos e irmã Zeza, começaram uma Revolução diferente em Teresina, a qual modificaria a paisagem da cidade. Saíam a pé, da rua 1º de Maio no bairro marquês, onde morávamos, para um lugarejo, de uma meia dúzia de casebres, próximo a uma casa grande, estilo
senzala, numa clareira em frente ao portão do fomento agrícola de Teresina. O povo chamava esse lugar de Bonrusário. Mas tarde ficamos sabendo o nome correto: Buenos Aires. Não havia urbanização. A única via de acesso era uma estradinha de 2,5m de largura, esburacada, cheia de pedregulhos e erosão. Aqui e acolá, encontrávamos um Jeep-Willis, do dono da água mineral- o velho Aragão, apelidado pelo meu irmão Nel's Nelson, de 'dez mi-réis'. por causa da sua avareza.

Era preciso ter coragem, a estrada, que hoje deu o lugar à grande avenida Duque de Caxias, cortava uma floresta de mata virgem, na qual muitas vezes presenciavamos atravessar onças, guaxinins, raposas e cobras. Às vezes também, cotias, as quais eram perseguidas pelos meus irmãos mais velhos, sem sucesso.

O primeiro culto, foi dirigido no dia 15 de agosto desse ano, na casa de pau-a-pique, recém construída, do irmão Zé Celer, numa vereda, hoje rua Santo Antonio. Os cultos eram dirigidos sob muitas ameaças. Os moradores nos rodeavam com varapaus, cacetetes de jucás, facões e quando menos, jogavam pedras, vindas do meio do mato. Por várias vezes irmão João, interrompia a mensagem, para citar a Constituição Federal, que nos garantia a liberdade de culto. É precisso dizer que Jesus começou a salvar pelos valentões e o primeiro foi o saudoso irmão Anísio. Um de seus filhos , criança à época, hoje congrega no Dirceu I. A partir de então, muitos apedrejadores foram transformados em apedrejados por amor ao nome de Jesus! Alguns hoje em dia são diáconos, presbíteros e pastores.

O Senhor pisou a cabeça da Serpente, tomou a chave do abismo que estava posto, abriu a porta da Graça, e a porta que Ele abre, ninguém pode fechar!(Ap 3.7-8).

A paisagem mudou! Hoje em todos os bairros da zona norte de Teresina, em suas principais ruas, há um templo da Assembléia de Deus - missões e várias outras denominações.

João Clarindo, viveu em um mundo ainda muito simples. Não havia microcomputador, internet e não falou pelo celular. Ainda conversávamos na ca
lçada, e nossas janelas eram livres (sem grades) onde nos debruçávamos, olhando e sentindo o cheiro da chuva.

João dos Santos foi pai de 21 filhos, em dois matrimônios ,todos vivos. Sou o 4º do segundo casamento.

Deus o chamou em 18 de Julho de 1979. São 30 anos sem o irmão João dos Santos, sem Seu João Clarindo.

São 30 anos de esperança naquilo que diz o Apóstolo que ele mais gostava de citar... "nos encontraremos com
o Senhor nos ares, e aí estaremos para sempre com o Senhor. Consolái-vos uns aos outros com estas palavras. (I Ts 4.13-18)