terça-feira, fevereiro 17, 2009

Abolição: Uma Conquista Protestante - parte 5












Capítulo 5


No Brasil a abolição da escravatura teve muita influência dos missionários evangélicos. Eram homens de ideais avançados e muito cultos. Os políticos e o Império sempre os ouviam. Escreviam constantemente, nos jornais da época e habitualmente encontravam-se com líderes políticos. Na lista desses missionários estava o nome de Ashbel Green Simonton, um abolicionista convicto. Assim como outros grandes homens que descreviam os próprios passos, Ashbel, assim externou o pensamento dos evangélicos anti-escravistas brasileiros: "Se ao menos puder ser removida a mancha da escravidão, esse incubo extirpado do corpo da nação, ainda que em algum dia distante, já será grande vitória". Muitos outros artigos foram escritos no Jornal "Impressa Evangélica", que circulava no periodo imperial.

O que pouquíssimas pessoas sabem neste país, é que o Brasil, foi a ultima nação das américas, a acabar com a escravidão. Outra informação que os brasileiros das novas gerações precisam ter, é que fomos o país que mais comprou e vendeu negros entre os séculos XVIII e XIX. Sinceramente, precisamos pedir licença ao âncora de um famoso jornal televisivo, e dizer com todas as letras maiúsculas: "ISTO É UMA VERGONHA".

E essa vergonha se faz maior, quando refletimos que "somos cristãos" e o maior país católico do mundo. Os dados são do Memory of the world - da Unesco. O padre português Manoel Ribeiro da Rocha, residente na Bahia, aparece como gota d'agua libertária no oceano da omissão, e escreve em seu diário em 1757, seus ideais abolicionistas, incentivado pelo movimento inglês, comandado por William Wilberforce e Thomas Clark.

Algumas personalidades históricas, entre eles José Bonifácio, Caldeira Brant, o imperador D.Pedro I e Hipólito José da Costa, jornalista residente em Londres, discursavam, escreviam artigos e apresentavam-se hipocritamente como abolicionistas, mas, na realidade não queriam que isto acontecesse, temendo ver o país se desestruturar. Nos seus planos haveria uma abolição lenta e gradual, a passos de tartaruga. Que me perdoe esse animalzinho simpático!

Então, mesmo depois da independência, o Brasil continuou traficando escravos, ignorando tratados como os congressos de Viena de 1815 e 1817. Por pura pressão da Inglaterra, o Brasil foi forçado a assinar um tratado em 3 de Novembro de 1826, o qual estipulava um prazo de três meses para acabar com o tráfico. Para cumprir isso, o parlamento brasileiro aprovou uma lei em 7 de Novembro de 1831, que libertava os escravos desembarcados em terras brasileiras. Esta lei ficou no papel. O tráfico continuou com a cumplicidade do governo. Hipólito, aquele jornalista baiano radicado em Londres escreveu assim no Correio Brasiliense, " Se o governo acabasse com esse mal, o povo lhes perdoaria todos os outros."

Em Abril de 1850, cruzados britânicos prenderam navios negreiros até nos portos brasileiros. No dia 14 de Outubro do mesmo ano, o ministro da justiça, Dr. Euzébio de Queirós, assinou a lei que proibia o tráfico clandestino de escravos africanos, para o Brasil. Seria a maior oportunidade para acabar de vez, com esse crime contra a humanidade. Os senhores de engenho e os fazendeiros pressionaram o congresso e o governo, em defesa de seus interesses. E assim, quando o deputado Pedro Pereira da Silva Guimarães (1850-1852) apresentou um projeto de lei, que libertava os nascituros, neutralizaram-no.

A população brasileira era de 4.2 milhões de habitantes, dos quais 1.2 milhão era de negros escravos. A agricultura dependia totalmente dessa mão-de-obra. Com a proibição do tráfico, sobrou dinheiro, e os ricos foram obrigados a investir em outras áreas. Aí surgiram os bancos, as companhias de imigração, estradas de ferro. etc.

Os abolicionistas passaram a contar com o apoio do Instituto dos advogados (hoje OAB ). Em 1871 o imperador D. Pedro II mandou para seus ministros apreciarem documento-apelo da Junta Francesa para a libertação de escravos. O Conselho de estado debateu o assunto com base nos projetos de Pimenta Bueno, visconde e marquês de são vicente. Esses estudos concluiram pela liberdade aos nascituros, garantia de pecúlio, suspensão de castigos corporais e alforria.

O processo de abolição teve influência também da guerra do Paraguai. Por falta de combatentes, recrutaram escravos como "voluntários da pátria". Em 6 de novembro de 1866 foi aprovado projeto de Zacarias de Góis e Vasconcelos, em que concedia liberdade ao negros que fossem designados para servir ao exército. Um outro projeto de sua autoria, de 28 de Setembro de 1868, abriu precedência para vários processos juridicos contra senhores escravistas, interpostos por brilhantes advogados tais como: Saldanha Marinho, Luis Gama e Pimenta Póvoas, que interpôs 1604 ações contra senhores que abusavam sexualmente de suas escravas; ganhando 729 alforrias. O primeiro estado brasileiro a abolir a escravatura, em 1844, foi o Ceará. Seguido pelo Amazonas e Rio Grande do Sul.

Depois daí veio, em 28 de Setembro de 1871, a lei do Ventre Livre, e em 28 de Setembro de 1885 a lei do sexagenário. Pela primeira, todos os nascidos de escravas eram livres. E pela segunda, todos os escravos com mais de 60 anos. em todo esse tempo de luta, ratificado ficou o que Deus manda ser seus filhos. Que sejam cabeças e não caudas. Os protestantes do século XVIII, pioneiros, conseguiram influenciar uma diversidade de movimentos sócio-ideológicos, às margens dos partidos políticos; como poetas, jornalistas, estudantes, advogados, militares. em outubro de 1887 oficiais do exército, solicitaram à Pricesa Isabel, regente do império no Brasil, que os soldados não fossem obrigados a capturar escravos fugitivos. Um famoso congressista, deputado Martinho Campos declarou, "A abolição, foi feita por aqueles que pertenciam ao partido daqueles que nada tem a perder". No penúltimo capítulo desta série, voce vai ler: Por que os livros não contam a verdadeira história?

Até lá.

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